O Brasil viveu um dos maiores saltos de inclusão financeira da sua história entre 2020 e 2023. Foram mais de 30 milhões de novos cadastros no sistema bancário, impulsionados pela digitalização acelerada durante a pandemia. O reflexo disso é visível na popularização dos investimentos, que deixaram de ser restritos a uma elite econômica e tornaram-se mais acessíveis a públicos diversos.
O processo foi liderado por tecnologias que permitiram a abertura de contas digitais simplificadas, o acesso facilitado a carteiras de investimento e o desenvolvimento de plataformas intuitivas. Hoje, é possível aplicar em renda fixa, fundos ou até cripto ativos diretamente do celular, com valores iniciais a partir de R$1.
Esse movimento não apenas aumenta a bancarização, como também democratiza produtos financeiros mais sofisticados, abrindo portas para que brasileiros das mais diversas faixas de renda comecem a investir e planejar o futuro.
A digitalização pós-pandemia e o papel do Pix
A pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas na forma como os brasileiros interagem com o sistema financeiro. O distanciamento social forçou a digitalização dos serviços bancários e o uso massivo de plataformas digitais. Em 2020, o pagamento do auxílio emergencial também foi responsável por este cenário, levando mais de 14 milhões de pessoas ao sistema financeiro pela primeira vez.
O lançamento do Pix transformou as transações financeiras: só em 2023, foram mais de 3 bilhões de transferências mensais. Rápido, gratuito e intuitivo, o sistema tornou-se a principal forma de movimentar dinheiro no país — superando o uso de cartões de crédito e transferências tradicionais como TED e DOC.
A combinação dessas soluções incentivou a entrada de milhares de brasileiros em plataformas digitais e, a partir disso, o interesse por investimentos cresceu, com aplicativos que educam, simulam e direcionam aplicações mesmo para quem nunca teve contato com o tema.
Barreiras que dificultavam o acesso antes da digitalização
Antes do salto digital, o sistema bancário era marcado por uma série de barreiras que limitavam o acesso de milhões de brasileiros. A burocracia excessiva, a exigência de documentos físicos e a necessidade de comparecimento presencial desestimularam principalmente os trabalhadores informais e de baixa renda.
Outro obstáculo era a concentração do setor financeiro em grandes instituições, que dominavam o mercado com pouca pressão competitiva. A oferta de produtos era pouco diversa e com taxas muitas vezes elevadas para públicos menos rentáveis.
Esse contexto dificultava a bancarização, restringia o acesso ao crédito e impedia que o brasileiro médio considerasse investimentos como parte de sua vida financeira. A transformação digital, liderada por fintechs e bancos digitais, rompe essas barreiras com um processo mais ágil e barato.
Como a tecnologia transforma o mercado de investimentos
O avanço da tecnologia possibilita não apenas a inclusão bancária, mas também a ampliação do acesso a produtos complexos, como investimentos, seguros e crédito estruturado. Isso se deu por meio de algumas soluções fundamentais:
- Inteligência Artificial (IA): permite análises mais completas do perfil do consumidor, viabilizando ofertas personalizadas de investimento, com riscos e rentabilidades compatíveis com o perfil do usuário.
- Banking as a Service (BaaS): possibilita que empresas não financeiras ofereçam serviços como contas e carteiras de investimento, sem precisar criar uma estrutura bancária do zero.
- Open Finance: compartilhamento de dados entre instituições, ampliando a base de análise de crédito e comportamento financeiro, o que facilita a oferta de produtos sob medida, inclusive de investimentos.
Ao integrar esses recursos, as instituições conseguem criar jornadas de investimento mais amigáveis, acessíveis e adaptadas às necessidades do cliente comum — inclusive os perfis com pouca ou nenhuma experiência financeira.
Novos modelos de negócio e o papel da educação financeira
Plataformas digitais modernas vão além da oferta de serviços básicos. Elas usam dados, personalização e experiência do usuário como pontos centrais para fidelizar e educar seus clientes. A criação de modelos como o Embedded Finance e o Embedded Lending, por exemplo, permite que o crédito e os investimentos estejam disponíveis diretamente em aplicativos de e-commerce, transporte ou alimentação.
Além disso, muitos desses ambientes oferecem conteúdo de educação financeira integrado à jornada de consumo — simuladores, vídeos curtos e trilhas de aprendizado ajudam a preparar o investidor iniciante para decisões mais conscientes.
O novo ecossistema quebra o estigma de que investir é apenas para especialistas ou pessoas com grande capital. A experiência digital é intuitiva, os valores mínimos são baixos e os conteúdos são claros, o que torna possível incluir uma nova geração de investidores no país.
Conclusão: investir é o novo normal?
A democratização dos serviços financeiros — e dos investimentos, em particular — representa uma mudança profunda na relação do brasileiro com o dinheiro. Impulsionada por inovações como o Pix, o Open Finance e o BaaS, essa transformação está longe de ser apenas tecnológica: ela é social.
No entanto, o caminho não está completo. Investir não pode ser apenas possível — precisa ser compreensível, acessível e útil para quem está começando. A tecnologia e os dados são ferramentas poderosas, mas precisam estar a serviço de um sistema justo, seguro e com espaço para a diversidade dos perfis financeiros.
A revolução digital, se bem conduzida, consegue fazer do investimento uma prática comum a todos os brasileiros — não só aos mais ricos. E isso é um passo fundamental para a construção de um país mais equitativo, informado e preparado para o futuro.